Testemunhos QUEBRAR O SILÊNCIO
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Manuela Moreira do Amaral
58 anos Colo-Rectal (Intestino), 2006, Doente A 3 de janeiro de 2006, depois de ter acordado de uma endoscopia alta e toque rectal, a que fui submetida, na sequência de várias dores e comportamentos anormais, que nos últimos três meses se agravavam, lembro-me de ter visto a expressão do anestesista que me olhava de uma forma que não estava habituada a ver num médico. Rapidamente percebi que algo de anormal teria, sem nunca ter pensado em cancro. Quando fui posta perante esta realidade, e talvez por ter sido sedada, a minha reação foi de calma: só perguntei "e agora o que vou fazer?". Não sabia nada sobre este tipo de cancro. Só nas consultas e exames posteriores me fui apercebendo. Eu era uma pessoa saudável com hábitos saudáveis, com vida ativa e dizia para mim própria: isto é mais uma doença, não posso ter medo. Só sabia uma coisa, tinha que rapidamente ser tratada. O meu tratamento constou de radio-quimioterapia combinado no pré-operatório. Fui operada em abril com resseção total do reto mas com a preservação dos esfíncteres. Para isso tive que ser submetida a uma segunda operação. Em todo o meu processo, tentei ter sempre uma atitude positiva: nunca deixei de comer de tudo e fazia para que isso não acontecesse, nuncadeixei de me arranjar (vestir e pintar) e tentava sair todos os dias para um passeio a pé, para sítios bonitos com gente. Isto ajudava-me a não pensar muito no assunto e dava-me forças. Enquanto me arranjava, me pintava, conseguia ver no espelho uma pessoa que a doença não tinha alterado muito, (nunca me caiu o cabelo) ao contrário daquilo que eu ouvia. Fazia-me sentir bem. Confesso que muitas vezes tinha de fazer um esforço grande, as dores e o mau estar eram grandes, mas tentava ultrapassá-los e se num dia não conseguia sair, tentava sair no dia seguinte. Tinha uma grande vontade de viver e a doença não podia ser mais forte que eu. Ao fim de cinco anos, com algumas sequelas, ainda aqui estou, apesar de ter tido um T3N+, sinto-me orgulhosa e agradecida aos médicos que sempre me acompanharam. Lamento, no entanto, que ao retomar à nossa profissão as pessoas não sejam mais compreensivas. Apesar de toda a nossa boa vontade e de nos sentirmos úteis para determinados serviços, deveríamos ter um pouco mais de compreensão.
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